Costurar. A costura vem depois do conteúdo. Vou utilizar a metáfora da colcha de retalhos para melhor exemplificar. Primeiro você escolhe o tema que você deseja contemplar, separa as estampas e as cores que deseja utilizar, começa a construir os retalhos e depois costurá-los em uma linda peça.
Na escrita segue um modelo de processo similar. Em um primeiro momento o escritor define o que quer alcançar com a história contada, quem são os personagens, o cenário, o motivo, a luta, o resultado pretendido. Em um segundo momento “vomita” os conteúdos, pedaços dessa história, começando a formar “caixinhas” de conteúdo, para finalmente costurar a história.
A costura depende do conteúdo que vai ser formado, cada conteúdo tem um tipo de costura diferenciada. Ela segue o que eu quero promover com a minha história. É suspense? Afeto? Lágrima? Paixão? Ou eu quero só informar? O que eu quero com a minha história?
Costura de textos envolve palavras que viram frases, frases que se tornam parágrafos, parágrafos que se agigantam em capítulos e capítulos que se entrelaçam constituindo um livro. Simples? Não! Mas muito divertido.
Alguns livros já escritos chegam até mim como um quebra-cabeça, claro, dá muito mais trabalho pegar um material já escrito cheio de lacunas, abismos e desconexões, do que acompanhar o escritor em seu processo de escrita. Mas quando chegam os materiais quebra-cabeças eu os trato como tal. Recorto em pedacinhos, fica assim meio esquartejado, e vou começar a montagem do brinquedo a partir de todos os dados que coletei com o escritor. Este quebra-cabeça pode ser de 50 peças como de mil. Por isso digo que é divertido, pois se assim eu não o olhar, vou ficar muito chateada com o processo.
A costura tem a ver com a harmonia entre os textos, são os ligamentos, é um momento de alinhamento, é o material mais fino. E é feito no final do processo, não podemos nos preocupar com isso no comecinho. O começo tem a ver com produzir conteúdo de qualquer jeito, de perna para cima, de perna pra baixo, repetitivo, não importa. Depois vamos lapidar todo ele, cortar o que está em excesso, costurar, deixar mais bonitinho, passar um batonzinho ali para poder ressaltar uma parte mais interessante, usar um corretivo acolá, sendo isso a finalização da escrita.
Alguns pensam só no leitor quando costuram, outros pensam só em si mesmo, no escritor, outros ainda entendem que até isso precisa de costura. O leitor e escritor são interdependentes (relação de apoio mútuo) e digo mais, co-dependentes (relação menos saudável de projeção um no outro). Por isso, em relação de costura, é muito bom saber costurar, mas também é muito bom saber PARAR de costurar, porque livro sem fim, é livro sem leitor.